Imobilidade e sucesso escolar

O sucesso de agora é a imobilidade de amanhã. 

O sucesso fabricado desde há uns anos nas escolas é o produto das encomendas do estado maior da educação com sede em Lisboa. O patrão maior manda, os pequenos patrões obedecem e os operários professores cumprem.

As intenções de alguns até podem ser muito boas, mas medir o sucesso pela ausência de negativas nas disciplinas do currículo escolar dos alunos, é uma verdadeira fraude, uma rasteira passada aos alunos, uma mensagem falsa e ninguém acredita nela. Fake success.

Parece que a escola se transformou num imenso estaleiro onde todos fingem trabalhar para o sucesso com a intenção descarada, embora oculta, de também ocultar as cada vez maiores desigualdades socias que as nossas sociedades neocapitalistas e neoliberais vão construindo, essas sim, com sucesso. 

Usar as escolas como pretexto para anular ou disfarçar o que tem sido sistematicamente negado aos mais desfavorecidos, é sádico. É reprovável e as escolas deveriam ser as primeiras na denúncia dessa fraude e dessa injustiça. 

Dizer a um aluno, a muitos alunos, que teve sucesso no fim do ano escolar, quando todos sabemos que não conseguiu qualquer sucesso, muitas vezes até regressão, é coisa que só deveria merecer o nosso desacordo e a nossa reprovação.

Não podemos dizer a um aluno que passou o ano a faltar às aulas ou a perturbar e impedir e dificultar o sucesso dos outros que merece o mesmo sucesso de todos. Não podemos dizer a um aluno analfabeto, ou muito próximo dessa disfunção, que teve sucesso, porque nem ele próprio acredita e assim banalizamos o valor do esforço, do saber e do conhecimento.

Assim é fácil. Muito fácil. O insucesso de políticas sociais justificado com o sucesso de políticas de educação. Vítimas somos todos nós. É o sucesso da imobilidade social. 

2 opiniões sobre “Imobilidade e sucesso escolar

  1. Tão certo como nada disto estar certo. Esta realidade acompanha-nos todos os dias como sombras. Não há quem queira ver, só quem queira esconder, começando pelos nossos colegas, alguns e muitos. O medo do “chefe”, o fantasma do “ditador”, a represália, a vingança, o assédio moral e psicológico e a ladainha do costume: “Mas o que é que podemos fazer? Foi sempre assim!”, “Eles é que sabem… eles é que mandam.” ou “Não vale a pena fazer ondas, porque quem se lixa sempre é o mexilhão!”

    Nunca estive tão de acordo com outra revolução, mas não igual em tudo como a de Abril de 1974. Essa foi mansa. Essa demorou tempo demais para aontecer. Uma revolução não é mansa, nunca deve ser mansa. Uma revolução não pode esperar tanto tempo para acontecer. 50 anos já se passaram. Estamos à espera de mais 50?! Não é por acaso que sempre ouvi dizer que este é um país de “brandos costumes”, sempre em lume brando.

    Que me desculpem os Portugueses que gostam de Fado, de Futebol e de Fátima. Nada contra, exceto quando adormecem e acordam a pensar só nisso. Se nada acontecer, os seus próprios filhos e netos serão os principais herdeiros de um país sem memória, sem orgulho e sem fé. Um país hipotecado, endividado e defraudado. Ficarão apenas as sombras, os restos e a saudade que alguns ricos, muito ricos, nacionais e estrangeiros – empreendedores, dizem uns, e investidores, dizem outros, – deixarão para única paga e doce consolo depois de conseguirem tudo o que queriam neste “jardim à beira-mar plantado”. Plantado por muitos séculos, mas desenraizado em poucas décadas. A terra já pouca é nossa, o tempo ficou parado, os jovens lançaram-se além fonteiras antes que o jardim murchasse de vez, e os velhos, os pobres e os fracos, esses ficarão, uns para morrer, outros para servir…. bacalhau à moda de tudo e com todos, sol e vitamina D, praia e mar, e o néctar dos deuses – o maior, o melhor, o divino inspirador de todas as coisas, e o que, ao mesmo tempo, nos faz esquecer muitas outras. Portugal! Portugal! Portugal!

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  2. Não tenho uma visão das coisas muito diferente da tua. Às vezes penso que um maio de 68 não nos faria mal nenhum. Quanto aos nossos colegas … salários baixos, filhos para sustentar, casa para pagar … para suportar a humilhação e a sobrevivência vão obedecendo, calados e tristes.

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